Ricardo Pereira e Dione Lins*
Em 2012, com a chamada de novos professores de Artes Visuais, Artes Cênicas e Música para atender as turmas da Educação Infantil ao 5° ano do Ensino Fundamental da Rede de Ensino Municipal do Rio, acreditávamos que a Prefeitura estava finalmente implementando o ensino de Arte em todos os segmentos das escolas no município. Mas, logo percebemos que a medida se restringia a cumprir a legislação em vigor sobre a obrigatoriedade de o professor (neste caso, o PII, o qual trabalha com o segmento citado) ter 1/3 da sua carga horária para planejamento. Todos os professores – antigos e novos - foram obrigados a cumprir a carga horária de 1 tempo semanal por turma no segmento do EI ao 5º ano. Ou seja, um professor de Arte, hoje na rede, com uma matrícula pode ter até 12 turmas e os que têm 2 matrículas, até 24 turmas, caso atenda apenas este segmento. Resultado: professores extremamente cansados, estressados e desestimulados.
Ainda no início do ano (para cumprir outra Lei – a de obrigatoriedade do ensino da Música) a SME orientou colocar a disciplina música no 6° ano. Mais uma decisão tomada sem a consulta aos principais interessados – professores e alunos. Neste caso, a decisão foi revertida, pois não havia o número suficiente de professores para atender as classes nem tampouco uma explicação plausível para o 6º ano ter música e os demais anos não.
No final de 2012, a SME manda acabar com os Núcleos de Extensão, onde se incluem os Núcleos de Arte. Tais núcleos realizam há décadas trabalhos de desenvolvimento do conhecimento em Arte e produção artística. A mobilização de professores, pais e alunos destes núcleos fez com que a secretaria voltasse atrás. Mesmo assim, muitos Pólos de Educação para o Trabalho e Clubes Escolares foram fechados.
Inaugurado o MAR - Museu de Arte do Rio
Agora, em 2013, foi inaugurado o Museu de Arte do Rio, o MAR em conjunto com a Escola do Olhar. Dentre seus objetivos, segundo a secretária de educação, está o de ‘promover o diálogo do museu com a escola’.
Logo na inauguração a direção do Museu separa um dia para os professores e outro para autoridades e artistas, numa clara demonstração de que a importância dada para a arte e para a educação ficará só na preocupação com a fachada dos prédios. O prédio da escola e do museu tem a mesma altura, para que a arte não se sobreponha à educação.
O espaço nasce com uma proposta museológica inovadora. De acordo com a Organização Social administradora, o objetivo será propiciar o desenvolvimento de um programa educativo de referência para ações no Brasil e no exterior. O MAR conjugará, assim, arte e educação a partir do programa curatorial que norteia a instituição. Ainda foi informado aos professores que, por meio da Escola do Olhar, o MAR vai atuar de maneira integrada, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, na formação continuada dos professores das escolas da Prefeitura do Rio e no recebimento de alunos.
Segundo a Fundação que dividiu com a Prefeitura a reforma e construção dso prédios "O Museu surge com o compromisso de unir as pontas de uma cidade que renasce, a partir de seu eixo central, e se dedicar a pensar em nossa formação e história.”.
Cidadania exige que as pessoas vivam a cidade na cidade
Vivemos um período no Brasil, em que foi estabelecido pelo MEC que todas as escolas devem se tornar de horário integral nos próximos anos. A opinião pública concorda, mas novamente: os mais interessados em opinar e propor como colocar em prática esta Educação Integral estão dentro das Unidades Escolares, que por sua vez localizam-se em comunidades e bairros da cidade.
Se a escola se transformou num espaço, isolado, fragmentado, voltado para a disciplina, com uma hierarquia absurda, com pouco espaço para o corpo, a movimentação e o lúdico, e, como tal, não desperta mais o interesse de nossos meninos e meninas, como esse aluno vai aprender algo sobre arte, cidadania, ética, por exemplo?
A escola não vai à cidade. A nossa escola carioca (e brasileira) não frequenta os museus (todos com excelentes setores educativos) nem os parques e tampouco as praias e praças. Todas as escolas deveriam, antes de tudo, ter acesso a ônibus para poderem levar nossas crianças para a rua, para as exposições, para os espetáculos e para os museus.
Estamos propondo, então, que nossos meninos e meninas permaneçam isolados entre quatro paredes, em um modelo de escola fragmentada e passiva?
Como é sabido, a Prefeitura não disponibiliza ônibus para as escolas, nem a Organização Social que gerencia o Museu. Os ônibus da liberdade que levam as crianças para a escola não são disponibilizados para os passeios e as escolas não têm verba suficiente para este tipo de atividade. Então, cabe aqui uma pergunta: como os alunos do subúrbio, da zona oeste e da zona norte irão fazer as visitas tão necessárias para o seu aprendizado?
Diante de tudo que o professor de Arte na escola vivencia isso é uma contradição! Para dialogar com a arte e o museu, professores e alunos precisam ter condições para um trabalho que reflita a proposta tão propagandeada na inauguração do MAR.
É preciso que todas as escolas tenham salas específicas de teatro, dança, artes visuais e música, ter pelo menos 2 tempos de aula com cada turma e essencialmente que todas as escolas tenham condições de visitar, não somente o MAR, mas todas as exposições que estejam nos planejamentos pedagógicos de todas as escolas desta Rede.
A prefeitura deve exercitar seu OLHAR para todas as escolas, OUVIR sua comunidade e RESPEITAR cada espaço escolar, incentivando a produção artística em cada unidade e expandir a proposta dos núcleos de Arte, para que tenhamos uma sociedade voltada para a fruição e que realmente dialogue com a Arte. Precisamos criar não uma escola, que seja uma exceção no resto da rede pública, mas uma rede que seja excepcional na formação de nossos estudantes.
Ricardo Pereira – professor de arte do município do Rio de Janeiro e militante da área da educação.
Dione Lins – professora de arte e convidada da editoria Fazendo Arte & Educação.