sábado, 13 de agosto de 2011

É o fim da greve? .... ou o início da luta?!

Marco Lamarão


A luta em que nos empenhamos teve ontem o desfecho de um episódio.  Muitos foram os entreveros, as divergências, muitos foram os erros, ora planejados, ora propositais. Muitos foram os cansaços e abatimentos e muitas também foram as vitórias. Sim, ademais toda a frustração que possamos sentir ao fim de tão laboriosa luta, devemos reconhecer algumas coisas e a primeira e mais evidente é esta: que somos vitoriosos!
Nestes dois meses de intensas lutas, empenhamos as nossas almas e corações em direção a um objetivo grandioso, que era a defesa da escola pública e, neste ano de PNE, podemos dizer que demonstramos ser possível através da luta a conquista de vitórias, mesmo que as mais básicas, mesmo que as mais antigas, ambas que não seriam vitórias não fosse o nosso suor. Neste ano de PNE, saímos da greve estadual com conquistas e, ao fim de nossa greve, assistimos o brotar da greve nas federais, os técnico administrativos das universidades federais ganharam novos aliados, agora CP II, as IFE´s e CEFET´s e algumas univ. federais já constroem, neste instante, seus movimentos grevistas. Estimamos que eles logrem os mesmos ou maiores êxitos que nós, educadores do estado do RJ, obtivemos.
Ademais as diversas conquistas de ordem econômica, dentre estas algumas como: o abono dos dias paralisados, o reajuste e o adiantamento das parcelas, o enquadramento dos profissionais 40 horas, o não fechamento das escolas noturnas, o descongelamento do plano de cargos e salários para os funcionários técnicos administrativos e todos estes ganhos garantidos também aos nossos bravios aposentados, tivemos conquistas das mais expressivas e estas se guardam no âmbito da política.
Antes que, de novo, acusem-nos de um debate que não fazemos (que é o antagonismo do velho com o novo) cabe uma ressalva. No materialismo histórico, corrente filosófica e política que nós, do luta educadora, nos filiamos, os termos de qualquer processo social não são vistos em sua dimensão antagônica, dualista e separada, mas sim de forma dialética e é neste sentido que reivindicamos a “novidade” desta greve, que na verdade não tem muito de novo mas, usando –me de Caetano busco me tornar mais claro:
“... E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos, não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio ...”
E o óbvio deste processo é a eficiência da luta e a importância da unidade, na prática, real e concreta, dos setores combativos. É a importância da luta como forma de garantia de direitos e de modificação da correlação de forças, mas também o efeito desta luta em cada um de nós - militantes - que aprendemos a sermos maiores ao superarmos o “eu” e praticarmos o “nós”. Esta é a grande novidade desta greve, a obviedade de que a luta de classes se faz cotidiana e diariamente, obviedade não da assertiva, mas do contexto histórico, onde virou moda a tão propalada inviabilidade das alternativas coletivas ao capitalismo.
Saímos da greve com um sindicato mais forte, mais representativo, mais respeitado, mais aguerrido que tem como tarefa agora implementar para dentro de si esta dinâmica: a dinâmica da construção sindical como fundamental para a luta de classes, os sindicatos tem um papel histórico definido a cumprir e  é muito maledicente  para a própria luta de classes a inversão dos termos, onde o sindicato ao invés de sindicato, serve de extensão de organização “a”, “b” ou “c”. Vejam bem, não estamos aqui acusando aquela ou esta organização, nem nos filiando a um discurso  antipartidário mas nos contrapondo a uma cultura política oriunda de um contexto histórico de refreamento dos movimentos sociais, cultura política esta que nós, como socialistas, devemos criticar e superar sob o risco de, se não o fizermos, não passarmos de um factóide com morte próxima.  Novos e antigos, vermelhos ou rubro – negros, mulheres e homens da educação estamos de parabéns e cientes de que a unidade de setores tão heterogêneos é que nos dá a  força e a dimensão que hoje alcançamos.
Sabemos, para além disso, que nossa luta não terminou ao  fim da greve, ao contrário foi lá onde ela começou e  a tarefa agora é de levarmos as nossas escolas, visando não só os nossos colegas educadores, como nossos educandos, mas também a comunidade local  (pais e familiares de alunos e usuários indiretos da escola). Nosso “cinturão de giz” ganhou nova localidade, ocupará as distintas escolas deste estado e servirá como base avançada para a próxima vindoura luta. É tarefa de cada militante grevista, então:
  1. Reservar, dentre as suas aulas, um momento de debate do que foi essa greve e do que é esta luta, usando os jornais, os sites, os blogs, os vídeos, as atividades como referência para o debate, ressaltando a luta como instrumento de mudança da sociedade.
  2. Contactar os demais grevistas da unidade de ensino e estabelecer uma forma de contato permanente dentre estes (lista de email, comunidade em rede social, mural do sindicato na escola, caderno de recado sindical, etc.).
  3. Averiguar se todos os grevistas são filiados ao SEPE.
  4. Buscar formar um núcleo sindical na escola que mantenha contato com as atividades da categoria e com a agenda do sindicato e da regional ou núcleo municipal;.
  5. Promover uma campanha de filiação ao sindicato na escola.
  6. Buscar agendar encontros dentre os filiados do sindicato e outros profissionais da escola a fim de discutirem temas relacionados a escola e a comunidade.
  7.  Que o núcleo sindical intervenha no espaço escolar de forma mais organizada, sugerindo não só atividades extracurriculares, como também interferindo nos projetos, sejam políticos, sejam pedagógicos inerentes a este espaço.
Este processo é apenas um rascunho que deve ser melhorado e adendado, mas isso tudo só nos indica que ao sindicato central cabe a tarefa de construir aquilo que é a maior realização de um sindicato da educação que é formar os seus educadores para a luta e potencializar a luta de classes. O que para nós do luta educadora significa, neste momento, a construção coletiva da Escola Sindical e Popular de Formação Política. 



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