Quando a malha ferroviária rompeu as fronteiras da Europa e ganhou terras longínquas, em vastas regiões da ÁSIA, África e América Latina, foi inventado o telégrafo submarino que permitiu a circulação de informações pelo mundo numa velocidade jamais vista. A partir de então foi possível ao homem dar a volta ao mundo em 80 dias e receber notícias de continentes distantes no intervalo de algumas horas. Esta revolução das comunicações ocorreu a partir de 1870, quando os capitalistas e o governo inglês passaram a aplicar vultosos investimentos fora da Europa.
Para um homem de classe média, morador da Grã Bretanha do século XIX, estas tecnologias além de representar a possibilidade de conhecer um grande mundo de aventuras descrito nos grandes clássicos da literatura, e possibilitavam a comunicação com parentes que viviam fora do continente europeu.
Por esta mesma época, a classe trabalhadora moradora dos grandes centros capitalistas e de regiões agrícolas como o Brasil, habitava os insalubres cortiços espalhados pelas capitais, morrendo adoecida pela intensificação da exploração do trabalho, pelos baixos salários e pela carestia. Foi também neste século que a classe trabalhadora, reunida e explorada nas grandes fábricas, começou a entender que a greve provocava a paralização de todo o processo produtivo, servindo assim, como um importante instrumento para suas reivindicações.
Guardando as devidas diferenças, no século XXI também temos a sensação de que as fronteiras do mundo estão cada vez mais diluídas. Hoje as informações são partilhadas em tempo real, pessoas em comunidades distantes podem jogar o mesmo jogo e indivíduos podem manter relações amorosas em lados opostos do globo. Há poucos meses atrás a fala de uma professora do Rio Grande do Norte, indignada com os baixos salários de nossa classe, com as más condições das escolas e falta de politica pública séria para educação ganhou destaque na internet e chamou atenção para a universalidade dos problemas da educação pública.
Com o sucesso do vídeo da professora, muitos profissionais da educação passaram a defender novas ferramentas de lutas, como o correio eletrônico, site de relacionamentos, redes de compartilhamento de vídeos e etc. Para estes, a greve é um instrumento ultrapassado, sem poder de conquista e de pouco dialogo com a sociedade.
Para não fazer um longo histórico de conquistas adquiridas através de greves pela nossa e por demais categorias, citarei apenas as lutas dos últimos meses deste ano. É sabido que o corpo de bombeiros, mobilizados à meses por reajuste salarial e por melhoria das condições de trabalho, antes de conseguir arrancar do governo uma negociação, invadiu o quartel central e permaneceu dias a fios, com parte do efetivo paralisado. Nós profissionais da Educação, em luta desde o dia 7 de junho, permanecemos em greve, ocupando ruas e revelando à sociedade a covarde política a que estamos sujeitos nas escolas públicas estaduais. A imprensa manteve o quanto pode a blindagem do governo preocupado em maquiar nossa mobilização. Mas, nos últimos dias a imprensa foi obrigada a anunciar a continuidade de nossa greve ao mesmo tempo em que Cabral anunciou a incorporação da primeira parcela do “Nova Escola”. Hoje, dia 07|07 recebemos a notícia de mais uma vitória, a justiça considerou nossa greve legitima garantindo que o ponto não será cortado.
Diante de destas duas pequenas conquistas, acho oportuno e necessário chamar a atenção para esta velha e eficaz ferramenta de luta, a greve, que deve vir acompanhada de novas formas de reivindicação, MAS NUNCA SUBSTITUÍDA.
Nívea Silva Vieira é professora da rede Estadual do Rio de Janeiro, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da Uiversidade Federal do Rio de Janeiro e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense.
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