Quando se torna evidente que a questão pública é gerida por interesses privados, quando o “popular” é privado dos seus direitos de cidadão pelos “posseiros” e “sitiantes” da máquina de desgoverno e mandonismo, a resposta do popular é a instauração do estado de desleixo, da apatia do desinteresse. (DREIFOS, 1989:12). Neste contexto de troca de favores e negociações espúrias, a saída defendida por alguns setores é o abandono do debate e a instauração da desconfiança da política.
A tarefa primordial de um educador é educar a sociedade respondendo que as politicas públicas devem ser definidas com a participação de todos e para todos. Como instituição responsável pela formação de sujeitos, e não de observadores, devemos ensinar com pedagogia e práticas concretas que a melhor saída para acabar com a prática de se instaurar no governo uma casta de representantes de interesses privados é a critica aberta e a oposição às políticas que não forem pautadas em prol do interesse coletivo.
O Plano de Metas, anunciado no inicio deste ano, como politica do Governo Sérgio Cabral para galgar posição menos vexatória no ranque que mediu a qualidade do ensino no país, além de ter sido elaborado por uma equipe técnica, sem consulta aos sujeitos da educação (educadores, pais e alunos) não revela, nem aponta soluções concretas para a precária situação da Rede Estadual de Educação. Já foram listados, em outros artigos, inúmeros motivos que nos levam a rejeitar este plano. Aqui faço a defesa do boicote a um dos elementos que compõe esta farsa: o SAERJ.
O SAERJ consiste em uma avaliação externa, bimestral, com conteúdo das disciplinas de português e matemática, aplicada a toda a rede estadual. Esta avaliação veio aliada a imposição de um currículo mínimo, criado sem a ampla participação dos professores. Além de atrapalhar o calendário e o planejamento elaborado pelo professor, a prova ignora as particularidades regionais e as diferenças dentro de aprendizagem, uma vez que estabelece uma avaliação única para todo Estado do Rio de Janeiro. O SAERJ fere ainda a autonomia pedagógica, ao impor a aplicação de determinados conteúdos, em prazos muito reduzidos e acaba restringindo nossa pratica criativa nos transformando em meros expositores. Como se não bastasse, de maneira desonesta, o Governo impôs a avalição também aos profissionais destas disciplinas, ao incluir na conta das escolas a obrigatoriedade de elaboração dos gabaritos. Do ponto de vista dos alunos a questão é mais grave, a prova corrobora com a instauração do clima de terror da prova única e avalia inclusive os alunos que estão sem aulas de português e matemática, ao mesmo tempo em que servirá de instrumento de medição e punição das escolas que não atingirem a media necessária.
É com autoridade de professora que repudio esta avalição, não por temor de por meu trabalho a prova, repudio o SAERJ por considera-lo um ato de autoritarismo do governador Sérgio Cabral, por entender que os problemas da educação de nossa rede não serão identificados por uma simples prova bimestral, elaborada por uma equipe de profissionais que desconhecem a realidade de nossas escolas e por acreditar que a competição entre as escolas não contribui para melhora de nossa educação e nem para o processo de aprendizagem de nossos alunos. E é assim, no debate franco, aberto, com criticas, questionamentos e proposições que educo meus alunos e formo sujeitos construtores desta sociedade.
Nívea Silva Vieira é professora da Rede Estadual Ensino do Rio de Janeiro, Mestre em História Social pela UFRJ, Doutoranda em História pela Universidade Federal Fluminense e militante do Luta Educadora.
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