sábado, 9 de julho de 2011

Quais são as melhores ferramentas de luta para a classe trabalhadora?- PARTE II

 

Por Prof. Marco Lamarão

Já foi exposto neste espaço, por intermédio de outro texto, escrito pela Profa. Nívea Vieira, os motivos pelo qual entendemos a Greve como um instrumento de luta para todos os trabalhadores. Posto aqui todos os seus argumentos e, na íntegra, concordando com ele, pretendo apenas contribuir com mais reflexões sobre o tema . A fim de tornar mais evidente que mesmo para nós, servidores públicos, a Greve continua sendo um dos mais importantes instrumentos de luta por reivindicações dos trabalhadores e trazer, também, algumas outras ponderações acerca do caráter político e não meramente “economicista”* de nossa greve.

Não se trata de uma defesa inconteste da greve ortodoxa pois, quem já um dia se aventurou a construí-la, sabe o quão é importante a criatividade crítica e a adição de instrumentos outros que POTENCIALIZEM esta luta. É fato que hoje as redes sociais cumprem um papel interessante na organização de determinadas demandas, mas insistimos, não seriam nada sem a praça pública e a população nas ruas. Enquanto fosse uma conversa de Facebook ou twitter, o movimento do Egito e de diversos outros países árabes, não atingiriam a dimensão política e as consequências que alcançaram, as duras penas e ao custo de milhares de vidas.

Para além de “organizar” e servir de espaço primeiro de encontros, a internet e as redes sociais, diante ao imediatismo com o qual podemos fazer circular informações, tem outro papel de suma importância que nós, trabalhadores, devemos discutir: a de produção e circulação de próprio conteúdo de demandas da classe trabalhadora sem a passiva espera de que os grandes “meios de comunicação” deem voz aos nossos reclames. O volume do nosso grito partirá de nossas próprias forças. Devemos saber organizá-lo e este é um debate que a LUTA EDUCADORA tem clareza da importância, não fosse isto verdade, não dedicaríamos parte do nosso tempo com este blog, mesmo sabendo ser este um passo primeiro, inconcluso, insuficiente, mas prenhe de possibilidades, pois em plena construção.

Não se trata também de uma defesa cega do “moderno”, travestido de tecnologia. Não. A defesa da criatividade da luta se dá também pela retomada de mecanismos clássicos que já tiveram importância em outros momentos como a “campanha da banana”, os “bonecos de passeata”, as alegorias, as blusas, a visibilidade da greve, o teatro, a aula pública, ou mesmo a greve de fome em determinadas circunstâncias – debate da última assembleia - e outras muitas ideias que possam revestir nossos reclames de forma mais comunicativa, mais explícita mas não menos política nem contundente, disso não abrimos mão!

Contudo, até agora não respondi a grande questão que me trouxe aqui: a validade da greve no serviço público e, em especial, na educação. Poderiam nos acusar de não atrapalharmos produção alguma senão do processo pedagógico dos nossos alunos, cabendo aí a afirmativa de que os únicos prejudicados da greve são justo aqueles que dizemos lutar a favor: os estudantes. Nada menos inverídico, seja pela maledicência ou pela desinformação. Se for pela maledicência, esquecerão que nós e nossos alunos vivemos em situações escolares absurdas, inóspitas ao processo ensino aprendizagem, onde a escola perdeu seu caráter formador e ganhou o caráter assistencialista, que vive e reflete, sem conseguir dar resposta satisfatória, ao processo de superexploração que se encontra a classe trabalhadora brasileira e com isto, a ida de pais e mães ao mercado de trabalho sem terem a mínima condição de acompanharem a educação de seus filhos. Portanto a luta por escolas públicas , em uma sociedade como esta, não é meramente por salários. É sim: TAMBÉM por salários, mas dentro de uma concepção mais abrangente sobre a escola pública que queremos e a que podemos ter. É importante que nosso aluno saiba, para tornar político o argumento aparentemente econômicista sobre salário- repito, é importante que ele saiba que um educador, um ser humano, vale mais que um ar condicionado! O que hoje a escola pública ensina é o contrário, pois se paga mais ao ar condicionado “alugado” por mês do que se paga ao professor, embora os livros didáticos apregoem o inverso. Negar a “coisificação” dos homens e mulheres é sim um debate político. Este é apenas um exemplo, de inúmeros outros. Mas de tudo, fica uma primeira afirmativa: o incorreto não é o método da greve mas a forma como a sociedade e nós, muitas das vezes “encaramos” a luta. Por entendermos que a greve é iminentemente econômica muitos de nós, no mais das ocasiões, faz justo um ato “econômico”: cruza os braços e para de trabalhar. Esta é uma tarefa que ESTA greve tem de ajudar a superar.

Se for por desinformação esquecerão que o tal plano de metas que o governo tinha pensando implementar para benefício tão somente de si mesmo (ou seja na melhora de números e índices para apresentar) sofreu um duro golpe com o massivo BOICOTE ao SAERJ. Devemos portanto organizar, não só na greve, mas principalmente fora dela, o boicote ao SAERJ, ao CONEXÃO EDUCAÇÃO e a todos os mecanismos que transformam nossos alunos e a nós mesmo, educadores em diversas funções, em números. Nesta dupla resistência reivindicamos participar dos processos verdadeiramente democráticos de elaboração de avaliações e, ao mesmo tempo, exigimos concurso público para o provimento de funcionários técnicos administrativos nas escolas. Mais dois exemplos de inúmeros outros que o cotidiano escolar nos impele a criar e organizar a resistência.

Para tentar encerrar um assunto não esgotado, reafirmo aqui a validade da greve como instrumento de luta. Mas faço dois alertas, um consequência do outro: primeiro, que não devemos cair no argumento fácil da injustiça da greve na educação, este argumento esquece, como dito acima, que nossa luta não é meramente economicista, mas também política em defesa de uma escola pública, gratuita, laica e de qualidade, devemos dar conteúdo a esta valoroza bandeira que hoje nos serve mais na forma. E nós mesmos, lutadores, não podemos esquecer do caráter político da luta e construí-la a partir desta premissa. Certamente partindo de princípios diferentes, os caminhos serão diferentes e as consequências mais profundas.

Esta greve está fadada ao sucesso, é certo que a precariedade de nossa situação não passará, desta vez, incólume. Contudo, ela terá mais sucesso se, no aprofundamento das lutas e do debate político, servir para educar a categoria da necessidade de, permanentemente, pensarmos e produzirmos conteúdos para nossas palavras de ordens e  que nossa luta pela escola pública, gratuita e de qualidade não seja mero grito de passeata, mas sim um programa político de ação (ou parte dele) que dispute a sociedade.

* economicismo é o pensamento que afirma serem os fatores meramente economicos primordiais. Neste texto, diferentemente, os fatores “econômicos” são fundamentais sim, mas devem ser vistos em profunda relação com os aspectos políticos, culturais, ideológicos, etc.

Marco Lamarão é diretor do SEPE-ita, Professor de história da rede estadual, Mestrando em Educação pelo PPGE-UFRJ.

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